Nossa expectativa de que o que é
bom possa ser preservado ou incrementado é constantemente frustrada por uma
infinidade de coisas que podem e irão sair errado.
Estamos, portanto, sempre muito
atentos à condição efêmera de estarmos felizes.
Poucas vezes percebemos que a tristeza também é uma condição passageira, que a
tristeza se esgota.
A tristeza é, acima de qualquer
coisa, uma oportunidade da alma, uma convulsão que se esgota na medida em que a
acatamos e abraçamos.
O grande problema da tristeza
está na tentativa de se evadir dela.
É nesta condição que ela perdura
e nos assombra.
Quando nos sentimos tristes,
buscamos nos distrair, ocupar ou consolar com coisas que nos alegrem.
Não percebemos que desta maneira
fortificamos a experiência de tristeza.
Isto porque tristeza se encara de
frente, olhando direto em “seus olhos”. Experimente aceitar a tristeza quando
ela se instala.
Deixe por momentos que o aperto
na glote se misture com o amargor do coração e, ao “agarrar” a tristeza,
descubra sua esgotabilidade.
Se corrêssemos ao encontro de
todas as nossas tristezas, perceberíamos que elas são sintomas da alma e que
das lágrimas que esta pode gerar surge a possibilidade do arco-íris, de um novo
dia com renovada fé.
O medo da
tristeza é o elemento principal que fertiliza a sensação de desespero.
No entanto, a tristeza em si pode
ser um importante instrumento da fé.
Todos conhecemos a experiência
que se sucede ao nos entregarmos a um choro profundo que alivia o coração e o
faz mais leve abrindo novas perspectivas de esperança.
A verdade é que não conseguiremos
explicar este fenômeno apenas como uma descarga de sentimentos que nos desopila.
Não se trata apenas de um
“volume” de tristeza a ser escoado.
A razão de a tristeza ser seguida
de uma sensação de esperança tem a ver com um ensinamento que descobrimos ao
entregar-nos a ela.
Revela-se a nós o fato de que
cada instante traz em si os meios para que lidemos com ele.
Por mais terrível que possa ser
ou parecer nossa realidade, há sempre à nossa disposição uma forma de vivê-la.
Na verdade, acreditar que cada
momento traz em si tudo o que ele mesmo possa vir a exigir de nós é a maior de
todas as esperanças.
Esta esperança se traduz numa
forma de confiança seja no Criador, no Universo ou na Natureza que não exige
abrirmos mão de nosso intelecto.
Sabemos
que não podemos esperar nem cobrar que a vida não nos faça conhecer nenhuma
perda, ou até mesmo a perda dela própria.
No
entanto, esperar que cada situação tenha inerente a ela os meios pelos quais
possamos suportá-la e que permitam lidar com ela é um ato de fé que não
contradiz a realidade.
No Talmude há um dito que
expressa uma lógica referente às leis que poderia ser estendida às leis
naturais, existenciais e espirituais.
Diz esta máxima: ‘Não se decretam
leis ou éditos que não possam ser cumpridos.”
Confiar não é o ato de esperar que nada de errado nos aconteça, mas, acima de tudo, ter certeza de que seja qual for o édito, este virá sempre acompanhado dos meios para ser suportado. Esta é, na realidade, exatamente a definição de não desesperar.
Confiar não é o ato de esperar que nada de errado nos aconteça, mas, acima de tudo, ter certeza de que seja qual for o édito, este virá sempre acompanhado dos meios para ser suportado. Esta é, na realidade, exatamente a definição de não desesperar.
Isto vale para a angústia e para
a ansiedade: o fundamental não é que se procure sublimá-las, mas vivê-las.
Quando vividas, elas se esgotam.
“Deus me deu uma boa cabeça, que
pensa rápido. A preocupação e a tristeza que outros processariam em um ano eu
processei em um único momento.”
Esta capacidade de concentrar
ansiedade, tristeza e luto, não se consegue através da fuga, mas do
enfrentamento destes sentimentos.
Todos estes sentimentos podem ser
relevados se vividos profundamente.
A evidência maior se encontra no
sorriso que desponta depois da entrega ao pranto, ou na sensação de triunfo e
transcendência que depois do sofrimento.
A tristeza é uma oportunidade,
não experimentamos deve ser perdida.
Se ela passar por você, persiga-a
com a certeza de que ela lhe indicará o caminho para o “oásis”.
A tristeza, portanto, é um
mecanismo capaz de restabelecer nossa confiança de que cada momento contém em
si a forma de ser enfrentado.
Cada vez
que vivenciamos a tristeza e a suportamos, se fortalece nossa esperança de que
também nos céus prevaleça a lógica que evita que se baixem decretos que estejam
além das possibilidades de que sejam cumpridos.
Seu comentário é importante para meu trabalho, deixe-o aqui.
Muito obrigado!
Fátima Jacinto
Nenhum comentário:
Postar um comentário